Você sabe o que é amolar a navalha e enxugar as lágrimas sobre a pele do que é profano? Você sabe o que é erguer as mãos diante do sagrado, aquele corpo barroco cuja pele reluz sob o sol em busca de um longo fôlego de memória?

 

O QUE OS OLHOS NÃO VÊEM, O CORAÇÃO NÃO SENTE

é um projeto sobre fotografia e literatura. Trata-se de uma ideia sobre um país, Brasil, ainda desconhecido entre nós mesmos, que não entra pela porta da frente, mas sim desvia o caminho em busca de um tempo presente que será sempre uma passagem. Nada por dentro de cada uma dessas imagens é definitivo. Nada por dentro de cada uma dessas palavras será eterno, esse verso inventado para que o homem possa suportar a própria existência, o próprio egoísmo. Aqui, por dentro das imagens e das palavras, estaremos sempre à beira do abismo porque é assim que somos de verdade. A força desse sentimento estará presente no olhar e na voz apenas dos que gritam de dentro para fora: sabemos amar tanto quanto sabemos odiar; sabemos sorrir tanto quanto sabemos destruir; sabemos chorar tanto quanto sabemos mentir. Por isso o sagrado e o profano. Por isso a irmandade entre imagem e literatura. Por isso a luta incessante para proteger o que nos é mais valioso e não permitir que esse sopro de humanidades – o que se costuma chamar de ‘cultura’ - seja transformado em material de consumo, em um produto descartável.

Diógenes Moura